O lutador Leandro Santos da Silva, o “Mun-Rá”, costuma dividir os seus dias entre os treinos de MMA e seu ofício como barbeiro. A rotina é cansativa e as coisas apertaram ainda mais depois que ele perdeu o seu pai, há dois meses. Antes disso, já havia sido abandonado pela mãe quando tinha apenas sete anos de idade. Ele foi buscar abrigo na casa de sua avó, mas acabou tendo que se mudar após a casa de sua avó pegar fogo.
Até os 12 anos, Mun-Rá viveu na casa de diversas pessoas que davam abrigo temporário para ele e para um dos seus irmãos. Chegou a vender doces nos sinais no bairro do Tanque, na zona oeste do Rio de Janeiro, para garantir um teto onde dormir. Definitivamente, “Mun-Rá” teve uma vida difícil e, se não fosse pelo esporte, provavelmente ele teria hoje uma história diferente para contar.
“Eu morava em Itaguaí com os meus pais, mas eles se separaram quando eu era pequeno. Ela me mandou para a casa da minha avó quando eu tinha sete anos. A casa da minha avó pegou fogo e eu tive que procurar outro lugar para morar. Eu e o meu irmão vivíamos rodando na casa de várias pessoas que nos davam abrigo. Cheguei a vender doces no sinal para uma mulher para ajudar com as despesas da casa. Aos 12 anos ainda moramos com uma tia em Realengo, mas logo voltamos para a rua. Fomos parar no Conselho Tutelar, mas nossa avó tirou a gente de lá e nos levou até o nosso pai. Mas ele tinha ciúmes da mulher dele com a gente e nos devolveu para a nossa avó. Ela foi a minha mãe e o meu pai ao mesmo tempo. Se não fosse pela minha avó Maria Madalena, eu não sei o que eu seria hoje”, contou Mun-Rá.
Além do suporte de sua avó, o esporte ajudou a mudar a vida de Leandro e, aos poucos, as coisas foram se encaixando para o jovem, hoje com 23 anos. Pupilo de Diego Braga e Eduardo Pachu, o atleta da Tropa Thai vem mostrando maturidade dentro e fora do cage para trilhar um caminho de sucesso nas artes marciais. Depois de um início de altos e baixos, ele vem se firmando e, no último sábado (15), conquistou a sua terceira vitória seguida no MMA ao vencer no Jungle Fight 102, realizado na Vila Olímpica de Mato Alto, no Rio de Janeiro.
“Fiquei muito feliz com a minha performance no Jungle Fight. Eu entro no cage para dar o meu máximo. Fui chamado para a luta faltando 15 dias e tive que perder 9kg. Não foi fácil, porque um dia antes ainda tive que perder quase 3kg para atingir o peso da categoria. Mas deu tudo certo, graças a Deus. Espero que venha muito mais daqui pra frente após essa minha estreia vitoriosa. Vou treinar mais forte para ter novas oportunidades de lutar no Jungle Fight”, disse Leandro.
A história de “Mun-Rá” nas lutas começou com a Capoeira. Depois ele foi para o Jiu-Jitsu, mas se identificou mesmo com o Muay Thai, esporte que ele pratica desde os 15 anos. Sua estreia no MMA aconteceu em 2017, quando ele tinha apenas 20 anos. Atualmente ele conta com oito lutas no cartel, com cinco vitórias e três derrotas. E, depois de tudo o que enfrentou na vida, ele já sabe exatamente o que quer para o seu futuro.
“Foi e está sendo tudo bem difícil pra mim. Há dois meses eu perdi o meu pai. A minha mãe eu já não vejo há quatro anos, ninguém sabe se ela morreu, porque ela está desaparecida. Tenho quatro irmãos, sou o mais velho da família. Ainda tenho uma irmã em Itaguaí que a minha mãe também deixou. Por tudo o que já passei, posso dizer que o esporte mudou muito a minha vida. Não sei o que seria de mim se não fosse o esporte. Graças a Deus eu tenho um trabalho como barbeiro. Eu mesmo faço o meu horário. Mas meu sonho desde moleque sempre foi ser lutador. Hoje eu luto pensando na minha família. Penso nos meus irmãos e na minha avó quando estou no cage, e sonho chegar ao UFC para dar uma vida melhor para eles”, concluiu.